sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

DIA 014


  
     Como é árduo lavar a própria roupa. Estou na terra dos bárbaros há quase quinze dias e tentei prorrogar ao máximo a feitura desta tarefa. Usei as mesmas roupas, não lavei as calças jeans e nem as blusas. Mas com o término das cuecas e meias limpas não tinha mais como adiar.
    Imagina a máquina de lavar num lugar onde tudo é de última geração. Pra se ter uma idéia, as máquinas de refrigerantes são de touch screem. Primeiramente eu não sabia quais produtos usar. Pensei em sabão de coco, mas fiquei com vergonha de perguntar. Então uma colega de trabalho muito cordial resolveu me ajudar. Anotou num papel o nome do sabão em pó e de uma parada para colocar na secadora. Vai pensando que os caras secam a roupa no varal.
     Operar as máquinas foi um sufoco. Mesmo familiarizado com comandos em inglês, não é a mesma coisa que um computador. Uma tarefa que deveria durar alguns minutos durou horas. Não sei até agora em qual momento a lavadora decide abrir a porta. Sei apenas que após ligar e desligar diversas vezes, numa delas a porta se abriu.
    Passemos agora a etapa da secadora. Juro que se tivesse lugar eu estenderia as roupas na janela ou colocaria de trás da geladeira para secar. O negocinho que a menina pediu que eu comprasse para a secadora era um paninho. Como ela não estava no momento da secagem, achei aquilo frescura de mulher. Coloquei minhas roupas na secadora e ignorei o paninho. O resultado foi que minhas roupas ficaram grudadas ao término da lavagem e ainda ganhei um choque de brinde ao tocar nelas dentro da secadora. Maldito seja o paninho!

DIA 013


   Está sendo foda limpar banheiros no hotel. Como não escolhi este trabalho, estou agora involuntariamente envolvido com a intimidade das pessoas. É muito nojento, porém divertido o rastro o qual as pessoas deixam para trás nos banheiros. Como de fato possuo a mente poluída, meus pensamentos vão longe quando me deparo com certas coisas.
    Os vestígios femininos até que são tranqüilos de encarar. Como de praxe sempre há calcinhas dependuradas na torneira do chuveiro. Sempre me deparo com muitos cabelos, estou acostumado. Loiros, ruivos, pretos e muitos brancos também. É até legal imaginar as mulheres de cabelos coloridos. As de cabelo branco não. O mais complicado é quando elas se depilam. Ficam uns cabelinhos minúsculos por toda a banheira, isto dá um puta trabalho para limpar.
    Mas o pior de tudo são os caras. Os homens possuem hábitos de higiene horríveis. Melhor, a maioria não tem educação mesmo. Suponho que a grande parte dos homens não cultiva o hábito de aparar seus pêlos. É muita treta limpar um vaso sanitário cheio de pentelhos grudados! Somente com luvas e usando um balde com água.
    Sendo um rapaz solicito, vou compartilhar com a rapaziada minha intimidade. Tome como um conselho assim você evita que as pessoas tomem contato com os pêlos de seu saco. Você pode aparar seus cabelos com uma tesoura ou de preferência uma maquininha de corte. As mulheres em geral gostam do resultado. Você também pode levantar sua alto estima, pois com os pentelhos curtos, seu pinto parece maior.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

DIA 012


     
     Eu definitivamente não presto! Você vai entender no final. As pessoas aqui são loucamente apaixonadas por animais de estimação. Tenho uma teoria de que por serem muito frios com as pessoas, necessitam extravasar seus sentimentos com os animais.
    Também conheço inúmeras pessoas no Brasil que são apaixonas por bichinhos. Eles dão carinho aos animais. Compram comida boa para os pelos, levam para tosa e cuidam como se fossem crianças. Uns até preferem animais a crianças.
    Acredito que aqui eles são mais radicais. As pessoas dormem com os animais na mesma cama. Pagam cerca de trinta dólares para as pessoas passearem com os pets durante uma hora. Conheço gente que faz coisas horríveis por trinta conto! Custam em média cem dólares para deixar os bichanos numa espécie de hotelzinho. No Brasil é coisa de madame, no entanto aqui, não há distinção de classes para esbanjar com os bichos.
    Hoje um hóspede do hotel precisou de ajuda para mudar de quarto. Enquanto ele carregava suas tranqueiras, me pediu que segurasse seu cãozinho. O cara começou a perguntar se eu gostava de cães, se eu tinha algum... Respondi que sim, o que é uma grande mentira. Em seguida notei que o cachorrinho estava desesperado para ir ao encontro de seu dono. Então me veio à idéia uma coisa. Quando o cara finalmente retornou para pegar o bicho disparei: esse cão te ama! O cara fez uma cara de ternura. Ganhei dez dólares de caixinha!

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

DIA 011



   Eu não sabia que amava tanto arroz e feijão. No Brasil necessito desta perfeita combinação ao menos uma vez ao dia. Perfeita mesmo! Igual chocolate e morango, café com leite ou churrasco e cerveja.
    Você não passa fome de maneira nenhuma aqui na barbárie. É milhares de coisas diferentes a venda no supermercado. Uma série de combinações que nunca vi antes. Os caras comem manga desidratada com chilli peppers, coca-cola sabor cereja, o clássico e estranho sanduíche de pasta de amendoim com geléia de morango.
    Estou nesta cidade há onze dias e não comi nenhuma comida caseira. Não tem nenhum que venda comida caseira e ninguém me convidou para comer em sua casa. Acho que eles não são muito disso. Atualmente estou vivendo a base de salada, a qual é muito prática, pois eles vendem no supermercado uns pacotes com um mix de folhas já cortadas e lavadas.
    Em geral os preços não são muito caros. Você não pode ficar fazendo conversão de valores é claro. Aqui se paga seis dólares por um combo de hambúrguer e fritas e o refrigerante é à vontade. Daria quase doze reais. Não existe lugar no Brasil com esse preço. Apesar de que na larica é possível comer um churrasco grego e ganhar um copo de suco com apenas dois reais.
    A verdade é que sem comer um prato de arroz, feijão e uma carne parecem que está faltando algo em mim. Por favor, se lembrem de não trocar o sagrado arroz e feijão por salgados, doces ou guloseimas. Você pode sentir muita falta deles um dia.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

DIA 010



      Eu sei que já escrevi sobre os bárbaros não saberem nada sobre nós. Mas essa eu não podia deixar passar em branco. Um moleque de dezenove anos trabalha comigo. Ele é recepcionista. Desde quando desembarquei aqui ele sempre me pergunta sobre festas, mulheres e drogas. Eu até que entendo o cara, pois já tive esta idade. Creiam, os hormônios estão à flor da pele.
    Para difamar ainda mais nossa fama mostrei a ele alguns vídeos na internet. Então quando estava mostrando algumas festas ele me questionou sobre bananas e macacos. Confesso que no inicio não entendi então pedi que ele repetisse. Ele queria saber onde estavam as bananas e os macacos nas festas. Comecei a rir e tentei explicar a ele que isso era uma idéia incorreta sobre o Brasil. Disse que sim, há macacos nas florestas e bananas nas fazendas. Para o cara bananas e macacos habitavam entre nós. Para piorar ele chamou o gerente do hotel em que trabalhamos e perguntou se não era verdade que macacos viviam entre nós. O outro respondeu: não, imagina, no Brasil não, mas na Argentina sim!
    Uma pelo menos acertou hoje. Conversamos sobre diversas coisas, ela me ensinou a pronunciar corretamente algumas palavras em inglês. Então decidi lhe perguntar se ela conhecia alguma personalidade brasileira. Ela respondeu que não. Decidi então perguntar qual a primeira coisa que vinha na cabeça dela quando se falava em Brasil. Sem pestanejar ela disse: que as mulheres brasileiras têm a bunda grande! Ao menos ela não errou...

domingo, 4 de dezembro de 2011

DIA 009


    As mulheres que vivem no Reino de Caliban são parecidas com as brasileiras. Eu diria semelhantes até demais. Não na questão de beleza, que aí elas passam longe. Digo similares em questão de trejeitos e de força.
    Minhas colegas de trabalham quando se juntam é um Deus nos acuda! Falam mais que papagaio de pirata e dão risada o tempo todo. São bastante vaidosas também. Como trabalham com produtos de limpeza, sempre carregam consigo um creme hidratante para mãos como muitas mulheres que conheço. Os assuntos, quando consigo captar, geralmente falam das mesmas coisas: família, marido, filhos, um parente folgado, a roupa de outra colega ou o preço de algo no supermercado.
    Antes das mulheres me xingarem quero dizer que sou a favor do domínio do mundo por elas. Elas fazem melhor, tudo que nós homens sabemos fazer. Não tenho a metade do pique e da disposição que elas possuem. Também não consigo dar um duro danado e continuar sendo gentil e delicado. Nós homens controlando o mundo só fizemos merda até agora, está na hora de passar o bastão.
    Por fim, quando digo força quero tentar expressar essa vontade que as mulheres possuem. Elas trabalham, ganham seu próprio dinheiro, cuidam de seus lares e de nossos filhos. Encontram tempo para ficarem bonitas e estão quase, quase sempre descontraídas. Para que nós homens servimos?

DIA 008



    É muito difícil explicar como a guerra está enraizada na cultura dos bárbaros. Eu poderia tentar comparar com o crime no Brasil. No entanto está é uma realidade de moradores de periferia como eu e não corresponde a realidade de todos. A guerra aqui atinge a todos não importa onde vivam.
    Você encontra os Marines onde quer que esteja. As pessoas usam roupas com as insígnias das tropas do exército. Os lugares possuem pôsteres com propagandas das divisões do exército ou então flâmulas.  Todos os homens vivos já lutaram em alguma guerra ou então tem alguém da família que lutou.
    Uma colega estava em seu perfil do Facebook e eu perguntei se havia algum amigo lutando no Iraque ou na Afeganistão. Primeiro ela me mostrou alguns que estão em seu turn que é a maneira como eles chamam a vez de quem vai à guerra.  Em seguida me mostra o perfil de alguns amigos que estão ativos na rede social, mas que foram mortos em combate.
    É complicado compreender. Esta terra foi fundada na base do conflito e se ela existe como tal hoje provavelmente se deve a guerra. O único julgamento que acho justo fazer é que como o crime praticado no Brasil por muitos amigos meus, muitas guerras lutadas pelos bárbaros são um despropósito.

DIA 007


    Os bárbaros não sabem nada sobre nós. Como não podem saber nada sobre uma civilização a frente de seu tempo como a nossa? Sempre que estou certo tempo com algum bárbaro questiono sobre nossa alta cultura. A única coisa que ouço são clichês e erros tremendos.
   Um cara tentando parecer familiar começa a falar de política. Diz que o Brasil é parceiro e que tem havido o bom relacionamento entre nossos países. Depois ele começa a elogiar nossa política externa e que nosso presidente é um homem muito esperto. Então fala da origem operária de nosso presidente... One moment sir! Nós trocamos de presidente a cerca de um ano e elegemos a primeira mulher da história de nossa república. Lula não é mais o presidente. O homem fica surpreso e diz que não sabia. Como ele se sentiria se eu dissesse que não tinha notícia de que eles elegeram o primeiro presidente negro?
    Conversando com pessoas diversas um me disse que conhecia o Ronaldinho. A todos que me apresento como brasileiro perguntam se eu jogo futebol. Eu bem que gostaria, mas não tenho mais saúde pra isso. Alguns falam de lutas e chamam o Anderson Silva de the number one. O único que eu gostei um pouco me surpreendeu. O cara olhou para meu boné do Tricolor e perguntou se o Neymar jogava no meu time. Disse que não. Então ele perguntou se o Lucas era do meu time. Fiquei contente e respondi que sim! O garoto chutou na trave, mas no rebote acertou em cheio.
    Numa conversa descontraída sobre vários assuntos uma colega de trabalho começa a falar sobre meu parceiro de quarto. Descubro então que o cara é argentino e que chegará dentro de alguns dias. Ela seguida ela me pega uma cópia do email que o cara enviou e pergunta se a Argentina é no Brasil? Então lá vou eu como um paciente professor da 5° série D, localizo na internet um mapa política da America do Sul e mostro que Argentina e Brasil são países diferentes. Ela diz que precisa voltar para high school.