Tenho bastante experiência em coisas
erradas. Quando se vive muito tempo em periferias ou favelas, se faz necessário
adquirir muito malicia para escapar de determinadas situações. Não se pode esquecer
nunca que um vacilo pode lhe custar à vida.
Certas coisas não devem ser ditas. Em inúmeras situações uma palavra mal
colocada pode te colocar numa enrascada. Cansei de ver neguinho tomando um pau
por causa de se expressar mal. Alguns já morreram também. Até explicar que
dezenove não é vinte, já era!
Você é cego. Mesmo que alguém presencie você vendo algo, é necessário
negar até o fim. Você precisa convencer a pessoa que a visão dela a enganou. Juro
que isso já me tirou de um porção de zica. Vai você responder que viu e que
pode testemunhar se preciso. Melhor não pagar para ver.
Fazer se de desentendido sempre funciona.
Para se livrar de certas situações é altamente recomendável que faça pareça um
idiota. Diga que não entendeu, comece a não falar coisa com coisa. Sempre quem
te interroga fica confuso, se irrita e desiste de insistir em você. Isso também
já me salvou.
Hoje a aplicação destas técnicas funcionou
entre os bárbaros. De dentre de um quarto do hotel que limpava notei um carro
chegando e estacionando numa manobra brusca. Tudo se passou bem rápido. Dois
caras no interior do carro, um falando ao celular. De repente um negão pula o
muro do hotel, vindo da rua e se dirige ao carro. Encosta na janela, saca
dinheiro do bolso e entrega ao maluco do celular. O motorista pega um pacote
pequeno no painel da caranga e entrega ao patrício. Este vira o olhar na minha
direção e grita: What’s up? Eu apenas
respondo baixo: Nothing! Baixo a
cabeça e contínuo aspirando o pó carpete do quarto.